O Brasil tem dificuldade de lidar com quem fala a língua do povo. Jerônimo Rodrigues não veio dos salões gelados da política tradicional. Ele brotou do chão rachado da Bahia, onde a palavra tem cheiro de terra, suor e memória. Sua fala sobre enterrar o bolsonarismo foi simbólica, visceral, como só o povo sabe ser. Mas os poderosos, acostumados a manipular os códigos da linguagem elitista, fingiram não entender. Transformaram metáfora em ameaça, símbolo em sentença, justiça em vilania.

Não é de hoje que querem calar Jerônimo. Desde que ele pisou no Palácio de Ondina com o pé descalço da roça e o coração cheio de fé, tornou-se ameaça. Ameaça à velha política, à narrativa higienizada que diz que o sertanejo não pode governar. Mas ele governa — e governa com a força de quem carrega no olhar a esperança de um povo inteiro. Quando falou em enterrar o que nos fere, falava do que mata: o preconceito, o racismo, a homofobia, a fome. Falava do bolsonarismo como máquina de exclusão.

É perverso ver analistas de gravata usarem esse momento para distorcer a imagem de um homem que nunca levantou a voz para o ódio. Jerônimo tem o timbre manso do sertão, mas sua firmeza assusta quem só respeita grito. Ele fala de paz, mas não da paz cínica que encobre desigualdades. Fala da paz verdadeira, construída com dignidade, com escuta, com a mão estendida. Sua fala pode ter sido dura — e foi — porque enterrar o bolsonarismo é enterrar um trauma coletivo.

Quem julga Jerônimo não conhece o povo. Porque o povo entendeu. E quem entende, acolhe. Ele não está só. Está cercado de milhares de vozes que falam como ele, sentem como ele, sonham com ele. E essas vozes não se calam. Nem diante do medo. Nem diante da mentira.